Achigãs ao ataque
Oct 18, 2019Achigãs ao ataque
Roland Martin, no seu famoso livro «101 Bass-Catching Secrets» («101 segredos para pescar achigã»), distingue nove razões para que os achigãs ataquem presas ou amostras a imitar presas. Que fique claro que quando nos referimos a presas incluímos as imitações com que tentamos enganá-los.
Vamos apenas distinguir os mais importantes e atrevo-me mesmo a discordar de uma das razões identificadas pelo grande mestre acima referido. Instinto assassino eu acho que nenhum animal pode ter. Instinto de sobrevivência é o único de que necessitam, isso leva a tudo, mas encaro o instinto assassino como uma coisa moral, e, portanto, reservado apenas ao ser humano e muito doente...
Teríamos de ser peixes para compreender este tema na totalidade, muitas vezes nem conseguimos perceber a razão do ataque. O mais importante, porém, é que consigamos levá-lo ao ataque, depois disso o trabalho é nosso.
Se tivermos um bom conjunto cana-carreto, na maioria dos casos o ataque sente-se e há casos em que se vê, não apenas quando a água está muito limpa, mas também quando pescamos à superfície ou perto dela. Às vezes até se ouve e bem!
Alimentação
É uma verdade universal que os predadores atacam as suas presas, fundamentalmente, para se alimentarem. Porém, há predadores mais refinados que o fazem por outros motivos e o achigã é um deles.
Para além da sua necessidade alimentar, um achigã ataca presas oportunisticamente, ou seja, para não perder a oportunidade que se lhe apresenta. Assim, o fundamental é percebermos o que se passa na massa de água em que queremos pescar: que tipo de presas tem em mais abundância, qual será a base alimentar, mas também algumas outras, como os lagostins, as rãs, as libelinhas, etc. O primeiro caminho para o sucesso é esse. Mas... E quando os achigãs não querem comer? Vamos para casa e desistimos? Não! Esse é o tema de hoje. O que temos de fazer é apelar a outros instintos que eles evidenciam.
Atenção! Não é necessário que uma massa de água tenha lagostins para que se possa pescar com essas imitações.
Irritação
Os achigãs atacam por se irritarem. Uma presa que se mostre muitas vezes e que se coloque a jeito, o mais certo é ser atacada. Este instinto joga com outros, nomeadamente com o instinto territorial e até com a competição se estivermos na presença de um cardume. Claro que na época da desova também se irritam com mais facilidade.
Por exemplo, um buzzbait é das amostras mais usadas para irritar achigãs, como um wake bait ou um horny toad, mas isso veremos mais adiante. Partimos do princípio de que qualquer amostra que cruze a zona de um predador vezes seguidas, ela acabará por ser atacada. Se isso não acontecer haverá motivos externos, como termos sido avistados ou detetados pelos sentidos do achigã, o que o coloca em alerta levando-o muitas vezes a desinteressar-se.
Curiosidade
Os achigãs não têm mãos, o que é fácil de percebermos ao primeiro olhar. Isso implica que para se aperceber do que está perante si, sendo um objeto novo, terá de fazer contacto e fá-lo, normalmente, com a boca. Isso é uma vantagem para nós, neste tipo de pesca, que só necessitamos cravar os anzóis para ermos a chance de uma captura. A curiosidade é um dos principais motivos pelos quais um achigã desfere um ataque. Até mesmo para se alimentarem, muitas vezes têm de abocanhar para perceberem de que se trata.
Defesa do ninho
Esta razão para atacar começa durante a migração em busca de locais para a nidificação. Logo nesse trajeto os achigãs vão tentar alimentar-se bem, mas também vão eliminar todos os eventuais empecilhos à sua escolha de local. Nessa migração, que começa no final do inverno, eles tentam matar todas as presas que encontrarem, não por instinto alimentar mas para «limpar» a zona de eventuais ameaças.
Depois do ninho feito irão começar os desfiles de fêmeas que serão atraídas a vários ninhos, repartindo os seus ovos e ajudando momentaneamente nas tarefas de afastar intrusos. Nessa fase, ambos ficam muito agressivos, mas muitas vezes, querem apenas desviar qualquer coisa que possa cruzar pelo seu espaço de eleição limpo com tanto cuidado. No ato de desviar presas e eventuais predadores, muitas vezes, veem-se obrigados a fazê-lo com a boca… Vantagem para o pescador!
Numa terceira fase, os ovos eclodem e os alevins formam uma nuvem que é patrulhada pelo macho durante cerca de uma semana. Nessa altura também ficam muito vulneráveis por fazerem frente a qualquer ameaça.
Agora que sabe disto, compreende a necessidade de devolução de um achigã capturado neste espaço de tempo em que tem de dar atenção à sua prole para garantir o futuro da espécie. Sem essa atenção os alevins acabam por ser comidos por outros peixes em muito pouco tempo.
Defesa do território
Quando se tornam adultos os achigãs mais aptos tornam-se solitários e ocupam um espaço. Não quer dizer que não aceitem a presença de outros peixes por perto, da sua espécie ou de outras. Nesta dinâmica o peixe dominante estabelece-se como protetor e usufrutuário principal da área que escolheu. Este fenómeno é mais evidente em massas de água com estabilidade dos níveis da água, o que depende muito do tempo atmosférico e da gestão que se faz da água. Se subir ou baixar os achigãs terão de estar sempre a reposicionar-se em busca de novos locais, o que os pode obrigar a vaguearem por largos períodos em vez de se fixarem. Quando se fixam tomam conta do seu «pedaço» de todas as formas não deixando impunes eventuais intrusos, atacando presas que passem.
Concorrência
Sempre que numa determinada zona se fixa ou deambula um cardume de achigãs que se estabelece uma certa competição entre os membros em busca de presas que passem. Se já viu a festa que as galinhas fazem com uma minhoca da terra que lhes demos, percebe perfeitamente a lógica que tento descrever. Cria-se um certo frenesim alimentar que leva todos os achigãs do grupo a quererem a presa.
Estes são os motivos mais importantes que levam um achigã a atacar uma presa e, consequentemente, as nossas amostras!
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